A Decadência Social

Há dias em que ando tão ocupado que julgo ter iscas de cérebro a sair pelas orelhas; há outros, como hoje, em que ando sensivelmente desocupado. E se estou nesses dias - hoje - aproveito para espreitar as alarvidades (a.k.a fontes de inspiração) que os meus conhecidos do facebook me proporcionam.

Em modo scroll down, passo pelo estado do Nuno que, refere estar a almoçar "maravilhosamente" no Palácio das Necessidades.

É mais um dos que passa os dias a postar os locais fantáaasticos onde janta e os menus mais caríiiissimos que enfarda. A roçar o pretensiosismo portanto. É o que dá aceitar convites de amigos dos amigos.

Vou mais abaixo ver o que andam a fazer os meus amigos pobres. Faço scroll up e verifico que o Nuno adicionou a Marinella (a namorada) ao post. Não fôssemos todos achar que ele estava a almoçar sozinho, Deus nos livre.

A máquina de lavar roupa apita e lá vou eu. No meu regresso a Marinella já havia retirado o seu tag. Já todos percebemos, portanto, que no Palácio das Necessidades decorre neste momento uma discussão conjugal enquanto mascam confit de pato de boca aberta. Isto promete.

Nisto bastaram alguns segundos para que o Nuno fizesse like ao seu próprio post. Não é que eu considere isto uma prática narcisista; é mais do género retardada dado que se a pessoa estivesse no seu perfeito juízo não iria obviamente postar alguma coisa de que não "like-asse".

Apesar da Marinella ter vergonha em figurar com ele num almoço chiquérrimo em pleno féicebúque, o Nuno insiste em como está a ter uma tarde orgásmica e acrescenta que o confit de pato está mesmo bom... mmm!

Nada. Ninguem. O rapaz está a almoçar sozinho num palácio com a Marinella que não lhe deve estar a dirigir a palavra, pelo tempo que ele passa no facebook móvel enquanto come notas de vinte. Começo a ter um pingo de pena do rapaz, alheio  à indiferença dos cibernautas "amigos". Não fosse a pouca confiança que tenho com o moço ia lá escrever "que inveeeeeja" para ver se o rapaz finalmente comia em paz e saboreava aquilo.

Interrompo este pensamento quando o Nuno, passados 11 minutos de silêncio virtual, faz um like ao  seu próprio comentário. E quase que em simultâneo, como que em jeito de resposta ao seu amigo imaginário, acrescenta outro comentário: ":-)"

Desisto. Acho mal que em momentos de crise as pessoas andem a cortar em bens essenciais como anti-depressivos.