quarta-feira, 27 de julho de 2011

O meu vizinho

Tenho um vizinho spooky que está sempre em todo o lado. Se vou passear o cão à noite, ele está lá no percurso a dar comida aos gatos vadios; se vou pegar no carro, lá está ele no parque de estacionamento; se vou ao supermercado, lá está ele lá ao pé nos seus afazeres.
Vou à rua muitas vezes com os dedos cruzados em modo de reza secreta para que o velho não esteja lá - ele está. Em toda a parte, como dizia a Bíblia.
Além de estar a ficar farto de estar constantemente a gritar ao meu cérebro, puta que pariu a minha sorte, tenho que levar com ele a toda a hora. Fala sobre tudo e mais alguma coisa que me possa induzir o sono profundo e o maior desinteresse que eu possa ter. Se na primeira abordagem tivesse dito que só falava islandês, o cabrão do velho era bem capaz de travar ali uma conversa fluida sobre a doença mental da Bjork ou sobre a fonga que está agora no poder.
E fico-me ali a mostrar o meu tártaro dentário porque tenho pena do senhor. A mulher deve ser um tijolo na cama e os filhos não lhe devem ligar nenhuma. E ali estou eu, a participar no seu monólogo como só um monólogo permite: acenando com a cabeça. Não que ele pareça ralar-se muito com isso. Por ele, além de me acompanhar à porta, entrava pela porta adentro e sentava-se na sala para cacarejar sobre os mais diversos temas da actualidade.
É um bom senhor, mas eu não fui talhado para ter paciência, a sério que não fui.

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