quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Sacrifícios

Almoçar na companhia da SIC Notícias nos tempos que correm não se tem revelado uma ideia muito iluminada. Para quem está numa de dieta, pode resultar ao ponto de cada medida sentir-se como um nó no estômago ao ponto de parar a digestão. O ingrediente certo para depois sacar do limador de unhas e enfiá-lo na garganta enquanto se garante uma linha formidável.

Para quem come diariamente como um javali acabado de sair do Ramadão (estou a falar de mim, portanto), cada corte anunciado é como um strip involuntário que alguma entidade divina me faz lentamente. Cada dia mais cortes que por momentos pensei que a minha pila estava directamente em cima da comida.

Hoje em dia opto por desligar a televisão. Se isto é ignorar o problema? É pois. E resulta quando eu faço isso com as putas com quem não me apetece travar mais que um sorriso cínico. Porque não há-de resultar com isto. 

Já sei que todos têm chauffeurs que transportam as mulheres e as putas desde o quarto do hotel até à esquina de onde vieram; já sei que todos têm ajudas de custo por trabalhar no Rato quando a casa deles fica lá longe para terras de Entrecampos; já sei que todos ganham um bónus-prémio astronómico pela produtividade na gestão de empresas mais que falidas; já sei que todos têm direito a quatro reformas vitalícias pelos cargos de grande responsabilidade que exerceram durante uns anos, não sujeitas aos cortes da plebe que até nestas coisas não se misturam águas; já sei que perante a crise, o melhor amigo dos portugueses vai ser a Credibom porque na televisão actual não dá para ver as imagens como deve ser; já sei que a primeira escapatória vai ser o atestado psiquiátrico alegando a plena loucura justificável perante todo o panorama actual. 

Já sei isso tudo. E a solução seria apenas ir porta a porta espetar um tiro certeiro a cada um e usar as "gorduras" dos mortos do Estado para fazer Sabonetes de Portugal, exportando 40% da minha capacidade de produção, vendendo os restantes no Pingo Doce com uma bandeira "Compre o que é nosso" a preços estupidamente mais caros que a concorrência mas sempre apelando ao patriotismo de quem nada tem.

Portanto se, neste momento, não quero ouvir mais nada é porque:

- recebo o meu extracto bancário pela internet e não preciso que os outros me digam quando estou em crise e que estou em plenas condições para fazer mais sacrifícios;

- matar é ilegal. E só o faria quando precisasse de cama para dormir, comida para comer, água quente para tomar duche, um ginásio para me exercitar, um telefone para fazer chamadas, uma televisão para estar a par de tudo, uma biblioteca para por em dia todas as leituras que não consigo fazer enquanto trabalhador no activo, de uma cirurgia, exames complementares de diagnóstico e tratamento prioritários sem espaço para listas de espera. E claro, muito sexo com centenas de homens com cabedal à escolha.
Tudo isto, financiado pelo Estado para que eu possa reflectir profundamente sobre o quanto a vida custa.

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