terça-feira, 11 de outubro de 2011

A criança em mim

Há dias andava com trabalho pelos olhos, quando surgiu um debate sobre as características laborais de cada pessoa. Rapidamente virei-me de olhos bem arregalados mas perdi logo o interesse e voltei ao trabalho quando percebi que aquilo não era má-língua: era mais um enaltecer das características boas de cada um - a mais organizada, o mais trabalhador. Que grande perda de tempo.

Até que me puxaram forçosamente à conversa que eu não queria ter sobre as minhas boas características. Estava a achar aquele debate delico-doce demais ao ponto de se tornar diabético, quase repugnante. Nesse momento senti que estava a ser forçado para participar numa orgia com o José Castelo Branco.

Respondi apenas que, evidentemente, era bom a tudo e que não tínhamos tempo suficiente para enumerar o meu rol de qualidades. E rapidamente virei costas para agarrar na revista que dizia que Carlos Cruz ia apresentar um programa de televisão na TV Cabo. Rezei silenciosamente para que não fosse o Canal Panda.

Puxaram-me outra vez à conversa da treta, porque além de serem todos umas Alices, são teimosos que nem burros. Com o meu suspiro de enfado bastante audível virei-me, mas que nada fez estremecer os colegas sorridentes que pareciam estar com o cu atolado em gomas e bolinhas de berlim e coisinhas boas.

- Então vá, querem o quê? Sou o mais organizado, o mais responsável ou o mais inteligente?
Abanaram a cabeça em uníssono enquanto olhavam para mim como se eu viesse de Marte.
- O que gere melhor o seu tempo?
Obtive o mesmo ar de incredulidade.
- Mais desenrascado, melhor a resolver os seus problemas... melhor a chegar atrasado ?(por esta altura já estava por tudo para pertencer ao clube das qualidades).
Uma das bolinhas de berlim, decide finalmente elucidar-me com o seu veredicto:
- Melhor a deixar a casa de banho empestada...
Confesso que apesar de ciente da sua veracidade, não estava à espera desta. 
- Vocês exageram tanto. Já tenho mais fama que proveito.

Ainda estupefacto com tamanha glória com que me tinham condecorado, o meu outro colega bardajão intervém dizendo que às vezes a merda dele consegue ser pior.  NEM PENSES, ISSO É QUE ERA BOM!, que a mim ninguem me rouba a estátua nem que seja por ter a melhor reacção nuclear intestinal:

- Pois, mas eu consigo por as pessoas do lado de fora da casa de banho a fugir em direcção ao refeitório, tamanho é o cheiro.

Ele pensa e responde - ya, tens razão. 
Toma lá morangos. E eu virei costas orgulhosamente com toda a minha altivez de quem tinha recebido a Menção Honorária da noite, olhando os meus colegas de alto a baixo com desdém pelos seus prémios banais de consolação que a nada se comparam ao meu Óscar. Ainda me voltei mais uma vez para encará-los com o ar orgulhoso de quem grita: IN YOUR FACE. Hmpf. Medianos.

3 comentários:

Anónimo disse...

GENIAL!

et voilà disse...

:) o pior é quem sofre dessas qualidades!

XL disse...

Se duvidas havia... "Schnoof és o Maior!!"