Eu prometi a mim mesmo que faria uma homenagem à Gata de um amigo meu no dia em que ela morresse: pois esse dia chegou... há umas semanas atrás, mas pronto; tenho tido coisas mais interessantes em que pensar do que na morte da gata.
Eu não gosto de gatos. Mas nunca pus nenhum no micro-ondas logo isso faz de mim um santo.
Na passagem de ano fomos todos à Casa onde residia a Gata. Fui avisado do estado paliativo da velha. E como sempre acontece quando se criam, expectativas, nada me fazia esperar a Gata Leprosa que se me apresentava com manchadelas de pêlo por todo o lado.
A pobre não se mexia à chegada de estranhos, não reagia ao impulso de fugir, correndo o risco de ser esmagada por bêbados. Coitada, se a criatura pensasse, diria que afinal ela queria morrer. Talvez era esse o seu segredo e ninguem na Casa tinha ainda descoberto.
Mas vê-la tentar beber do prato e esquecer-se do que estava ali a fazer para depois adormecer com o focinho enfiado na água, era deveras ridículo e humilhante. Ou um pedido de eutanásia frustrado.
E se a crueldade já não bastasse, sempre que ela passava, olhava-a de lado com o desdém de quem não gosta de gatos e rangia "Olháaa mórtaaa!".
E por isso, peço publicamente perdão à velha que jaz ali no quintal a servir de fertilizante às couves lombardas.
Que Deus te guarde e prometo que numa próxima encarnação seremos amantes. Pressinto-o... desde que não sejas Gata outra vez foda-se, ninguem merece.
The 90s - 01.2011
RIP
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